Gravidez Não Evolutiva e uma tristeza profunda | De Mãe para Mãe

Gravidez Não Evolutiva e uma tristeza profunda

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Catarina123 -
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Desde 29 Maio 2024

Recorro a este fórum porque têm sido quase dois anos muito difíceis.
No final de 2022, eu e o meu companheiro decidimos que queriamos dar o próximo passo. Fomos ao médico, fiz análises e tudo parecia estar bem. Os meses foram passando e nada acontecia o que, claro, começa a criar uma ansiedade maior. O que começou por ser um "vamos deixar acontecer", passou a ser uma ansiedade ("quando é que estou a ovular?", "Porque que não acontece?"). Descobrimos que o meu companheiro tinha uma quantidade de espermatozóides viáveis abaixo do normal, mas que não era impeditivo nem significava propriamente infertilidade.
Até que passado quase 1 ano de tentativas, aconteceu e até me parecia tudo irreal, nem queríamos acreditar.
Acontece que passado nem 1 mês, começo a ter perdas de sangue... o médico diz-me que se trata de uma gravidez não evolutiva, que acaba por resultar numa perda gestacional. Ficámos arrasados.
Voltei ao médico passado 2 semanas, e ele disse que já estava ok (consegui expelir tudo), mas para aguardar pela próxima menstruação para voltar a tentar. Que se nos próximos 6 meses engravidasse voltava a agendar uma consulta. Mas se não engravidasse que devia lá voltar na mesma.
Pois passado 6 meses continuo sem conseguir engravidar. Tem sido uma gestão emocional dificílima. Sinto que a vida das outras pessoas continua a avançar e a minha na mesma, sem ter culpa nenhuma disso. Tentei relativizar um pouco a situação, andar mais descontraída... até que descobri que uma pessoa muito próxima engravidou e fui-me mesmo muito abaixo. Eu queria estar feliz pelas pessoas e tentar criar uma linha entre o que eu sinto e a felicidade dos outros, mas está a ser muito complicado. Não tenho as ferramentas necessárias para saber lidar com esta situação. As outras pessoas não têm a mínima culpa de como eu me sinto. Mas isto não é uma escolha... se eu pudesse escolher queria estar muito feliz pelos outros e não miserável pelos meus problemas e situação.
Não sei se alguém desse lado passou por situações idênticas, mas recorro a este fórum para perceber se isto é normal e, no fundo, para desabafar.

Catarina

MisaL -
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Desde 17 Abr 2019

Custa mesmo muito!
Não se sinta mal por estar triste, tem esse direito é o seu sofrimento e tem de levar o seu tempo. Não passe por isso sozinha, procure ajuda, fale com alguém.
A sensação de termos a vida parada dói muito. A minha filha mais velha foi operada à nascença. No dia da cirurgia fui dar uma volta pelas redondezas do hospital. É uma zona central, de estudantes, imenso movimento e eu lembro-me de olhar para as pessoas e pensar: mas que vida é esta? Cada um vai na sua vida, uns correm para apanhar o autocarro e eu sou-lhes invisível. Eu não sei o dia de amanhã, eu estou à espera do telefonema que pode mudar a minha vida para sempre e ninguém repara em mim. É a sensação de todos estarem em movimento e nós com a vida suspensa, nem sabemos bem para que lado virar.
A verdade é que a vida volta sempre a andar e hoje estamos com a vida suspensa e amanhã chega uma luz e a nossa anda de novo. E eu saí do hospital com a minha bebé e outras mães não.
Quanto engravidei do meu 3o uma amiga minha engravida na mesma altura. Eu tinha mais uma semana do que ela, eu grávida num descuido, ela com uma luta de infertilidade. Eu perdi a minha bebé numa IMG e ela teve a dela, no dia da minha DPP. A vida dela esteve mais de um ano suspensa e depois andou a dela e parou ali a minha, mas depois volta sempre a andar e a aparecer a luz.
Custa muito ver que não somos nós que estamos felizes, que não foi para nós a boa notícia, mas um dia a vida vai voltar a andar!
Procure ajuda, vá ao médico agora que já fez os 6 meses. Não tenha vergonha de estar triste, de chorar, de se afastar de algumas pessoas que não lhe façam bem no momento, nem tenha vergonha daquilo que lhe aconteceu e está a acontecer e acredite amanhã há-de ter a sua luz.
Força. Não se isole, fale com pessoas, apanhe sol. Que a vida lhe traga boas notícias um dia destes 🍀

Desde 29 Maio 2024

Olá, bom dia!
Passei para lhe dar muita força e dizer que imagino aquilo por que está a passar… eu e o meu namorado também estivemos nessa situação, é um stress, uma angústia, parece que está sempre tudo incompleto…
Normalmente dizem-nos para esperar, pensar noutras coisas… isso comigo nunca resultou, quanto mais me diziam isso mais eu sentia que havia algo de errado connosco e o medo apertava…
O que nós fizemos foi mudar de profissional. Queríamos sentir valorizavam os nossos desejos e receios… e resultou muito bem, neste momento temos uma princesa linda com 2 meses e meio…
Espero que tudo lhe corra pelo melhor e que esse coração acalme porque é uma batalha muito dura Sorriso
Um beijinho

Joana123 -
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Desde 31 Maio 2016

Comigo também me ajudou conversar muito abertamente sobre estes pensamentos com as minhas amigas. Demorei mais tempo a engravidar desta vez do que das outras, tinha uma amiga a tentar ao mesmo tempo que eu, entretanto ela engravidou e eu não e falámos imenso sobre isso, sobre este pensamento intrusivo de 'porquê aos outros e não a mim?', que mina a felicidade que sentimos que devíamos ter por eles. Não há nada de mal em sentirmo-nos assim, nem somos más pessoas, simplesmente é um pensamento lógico e não conseguimos controlar a forma como nos sentimos. A minha amiga acabou por ter uma perda gestacional e agora estamos ao contrário, eu grávida e ela ainda não, e mais uma vez falamos abertamente sobre isto, eu sei que ela não está feliz por mim nem eu esperaria que ela estivesse, é normal, são situações complexas que nos magoam e obviamente que não quer dizer que queiramos mal às pessoas. Vai acontecer. Lembro-me de no Natal passado pensar 'mais um Natal sem estar grávida' e afinal no próximo Natal já vou ter é um bebé. Um beijinho.

MatildeB12 -
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Desde 22 Fev 2023

Olá Catarina,
Antes de mais lamento muito pelo que esta a passar. A sua história poderia ser também a minha, com algumas diferenças, portanto entendo perfeitamente como se sente!

Estivemos 1 ano a tentar, sem sucesso, ambos jovens (ainda nem tínhamos 30) e saudáveis. Eu sentia que algo estava mal dentro de mim mas quando marcava consultas diziam ser normal demorar até 12meses. Ok. Esperei.
Findos esses 12 meses (em ponto, quase) procurei ajuda de uma médica especialista na área da infertilidade. Fiz análises, estava tudo bem comigo, o meu marido não. Nunca conseguiríamos engravidar sem recorrer a técnicas de PMA.
Assim foi. Iniciamos FIV (todo este processo é psicologicamente doloroso por causa da ansiedade) mas quando finalmente fizemos uma TEC correu bem, engravidei. Sentimo-nos as pessoas mais felizes à face da terra!
Pelas 8 semanas, numa consulta de rotina, o meu bebé não tinha batimento cardíaco (sim, eu sei que ainda não era um "bebé" tecnicamente mas para mim já era e sempre será). Não tive 1 único sintoma de que algo estivesse mal, 2 semanas antes tinha ouvido o coração a bater com toda a força.
Esse dia, lembro-me como se fosse hoje, moldou-me, sinceramente nunca mais fui a mesma pessoa.
Hoje, estou grávida, a meio da gestação, e não tive um único dia descansado desde então. Só vou descansar quando tiver a minha bebé nos braços!

Quanto ao facto do sentimento para com as suas amigas que engravidam, vou-lhe contar uma coisa que se passou comigo: No meio de todo o processo de infertilidade, uma amiga minha engravidou sem querer, quando me contou comecei a chorar como uma desalmada, disse que estava super emocionada e feliz por ela que nem me estava a conseguir conter. Mentira! Totalmente mentira! Chorei de tristeza por mim, porque queria tanto e não estava a conseguir e ela sem sequer se esforçar conseguiu. Depois chorava porque me achava má pessoa e invejosa e tinha medo que algo até corresse mal com ela pelo modo como eu estava a pensar, aquela "inveja"... É muito difícil. São coisas que nos mudam. Procure acompanhamento psicológico, eu não o fiz mas não é algo que descartei.

Desejo que tudo lhe corra pelo melhor e se precisar de falar, envie-me MP!
Um beijinho grande 🫶

MisaL -
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Desde 17 Abr 2019

Eu acho que até pode estar feliz, agora estar feliz pelos outros não é suficiente para anular a tristeza que sente.
Também falei sempre. Claro que houve uma fase em que não se queria falar, nem ver ninguém. Lembro-me que não lhe contei até ela ter os dados do rastreio e saber que estava bem e fiquei genuinamente feliz por a dela estar bem. Só soube depois da IMG. Claro, que simultaneamente me trouxe a tristeza da minha, mas era mesmo a notícia que queria ouvir, já só rezava pela dela. Na altura até pensei "se tiver algum problema ou se perde a bebé não vou aguentar estarmos as duas a viver isto".
Cada vez acho mais que ao falarmos, a verbalização do que sentimos retira peso e ajuda a que os acontecimentos maus se enquadrem na nossa vida sem que seja "algo oculto" que não se pode saber ou falar. Mas há quem prefira viver em isolamento estas fases más.

Joana123 escreveu:
Comigo também me ajudou conversar muito abertamente sobre estes pensamentos com as minhas amigas. Demorei mais tempo a engravidar desta vez do que das outras, tinha uma amiga a tentar ao mesmo tempo que eu, entretanto ela engravidou e eu não e falámos imenso sobre isso, sobre este pensamento intrusivo de 'porquê aos outros e não a mim?', que mina a felicidade que sentimos que devíamos ter por eles. Não há nada de mal em sentirmo-nos assim, nem somos más pessoas, simplesmente é um pensamento lógico e não conseguimos controlar a forma como nos sentimos. A minha amiga acabou por ter uma perda gestacional e agora estamos ao contrário, eu grávida e ela ainda não, e mais uma vez falamos abertamente sobre isto, eu sei que ela não está feliz por mim nem eu esperaria que ela estivesse, é normal, são situações complexas que nos magoam e obviamente que não quer dizer que queiramos mal às pessoas. Vai acontecer. Lembro-me de no Natal passado pensar 'mais um Natal sem estar grávida' e afinal no próximo Natal já vou ter é um bebé. Um beijinho.

Catarina123 -
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Desde 29 Maio 2024

MisaL escreveu:
Custa mesmo muito!
Não se sinta mal por estar triste, tem esse direito é o seu sofrimento e tem de levar o seu tempo. Não passe por isso sozinha, procure ajuda, fale com alguém.
A sensação de termos a vida parada dói muito. A minha filha mais velha foi operada à nascença. No dia da cirurgia fui dar uma volta pelas redondezas do hospital. É uma zona central, de estudantes, imenso movimento e eu lembro-me de olhar para as pessoas e pensar: mas que vida é esta? Cada um vai na sua vida, uns correm para apanhar o autocarro e eu sou-lhes invisível. Eu não sei o dia de amanhã, eu estou à espera do telefonema que pode mudar a minha vida para sempre e ninguém repara em mim. É a sensação de todos estarem em movimento e nós com a vida suspensa, nem sabemos bem para que lado virar.
A verdade é que a vida volta sempre a andar e hoje estamos com a vida suspensa e amanhã chega uma luz e a nossa anda de novo. E eu saí do hospital com a minha bebé e outras mães não.
Quanto engravidei do meu 3o uma amiga minha engravida na mesma altura. Eu tinha mais uma semana do que ela, eu grávida num descuido, ela com uma luta de infertilidade. Eu perdi a minha bebé numa IMG e ela teve a dela, no dia da minha DPP. A vida dela esteve mais de um ano suspensa e depois andou a dela e parou ali a minha, mas depois volta sempre a andar e a aparecer a luz.
Custa muito ver que não somos nós que estamos felizes, que não foi para nós a boa notícia, mas um dia a vida vai voltar a andar!
Procure ajuda, vá ao médico agora que já fez os 6 meses. Não tenha vergonha de estar triste, de chorar, de se afastar de algumas pessoas que não lhe façam bem no momento, nem tenha vergonha daquilo que lhe aconteceu e está a acontecer e acredite amanhã há-de ter a sua luz.
Força. Não se isole, fale com pessoas, apanhe sol. Que a vida lhe traga boas notícias um dia destes 🍀

Obrigada pelas palavras. Já marquei a consulta, será para o final de junho.
Eu realmente tenho sentido que sou má pessoa, e detesto quando me dizem que não sei lidar com a situação... mas existe alguma forma ideal padronizada de lidar? Gostava mesmo muito de ver as coisas de outra perspetiva, por isso agendei também uma consulta de psicoterapia... sinto-me de rastos. Acho que muito poucas pessoas fazem o esforço e têm a empatia para se colocar do nosso lado nestas alturas.

Catarina

Catarina123 -
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Desde 29 Maio 2024

Sara Filipa Esteves escreveu:
Olá, bom dia!
Passei para lhe dar muita força e dizer que imagino aquilo por que está a passar… eu e o meu namorado também estivemos nessa situação, é um stress, uma angústia, parece que está sempre tudo incompleto…
Normalmente dizem-nos para esperar, pensar noutras coisas… isso comigo nunca resultou, quanto mais me diziam isso mais eu sentia que havia algo de errado connosco e o medo apertava…
O que nós fizemos foi mudar de profissional. Queríamos sentir valorizavam os nossos desejos e receios… e resultou muito bem, neste momento temos uma princesa linda com 2 meses e meio…
Espero que tudo lhe corra pelo melhor e que esse coração acalme porque é uma batalha muito dura
Um beijinho

Obrigada pela força positiva! Tenho consulta agendada para o final de junho.
Espero que corra tudo pelo melhor. As felicidades para si e para a sua família! 😊

Catarina

Catarina123 -
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Desde 29 Maio 2024

Joana123 escreveu:
Comigo também me ajudou conversar muito abertamente sobre estes pensamentos com as minhas amigas. Demorei mais tempo a engravidar desta vez do que das outras, tinha uma amiga a tentar ao mesmo tempo que eu, entretanto ela engravidou e eu não e falámos imenso sobre isso, sobre este pensamento intrusivo de 'porquê aos outros e não a mim?', que mina a felicidade que sentimos que devíamos ter por eles. Não há nada de mal em sentirmo-nos assim, nem somos más pessoas, simplesmente é um pensamento lógico e não conseguimos controlar a forma como nos sentimos. A minha amiga acabou por ter uma perda gestacional e agora estamos ao contrário, eu grávida e ela ainda não, e mais uma vez falamos abertamente sobre isto, eu sei que ela não está feliz por mim nem eu esperaria que ela estivesse, é normal, são situações complexas que nos magoam e obviamente que não quer dizer que queiramos mal às pessoas. Vai acontecer. Lembro-me de no Natal passado pensar 'mais um Natal sem estar grávida' e afinal no próximo Natal já vou ter é um bebé. Um beijinho.

Obrigada pelas palavras. É "bom" sentir que não estou sozinha no meio destes sentimentos muito confusos e que outras pessoas já passaram por aquilo que eu sinto neste momento. Sinto-me realmente compreendida. Agendei uma consulta de psicoterapia para conseguir arranjar ferramentas para lidar com esta situação que, sendo de uma pessoa tão próxima (família), não posso realmente fugir ou isolar-me na totalidade.

Catarina

Joana123 -
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Desde 31 Maio 2016

MisaL escreveu:
Eu acho que até pode estar feliz, agora estar feliz pelos outros não é suficiente para anular a tristeza que sente.
Também falei sempre. Claro que houve uma fase em que não se queria falar, nem ver ninguém. Lembro-me que não lhe contei até ela ter os dados do rastreio e saber que estava bem e fiquei genuinamente feliz por a dela estar bem. Só soube depois da IMG. Claro, que simultaneamente me trouxe a tristeza da minha, mas era mesmo a notícia que queria ouvir, já só rezava pela dela. Na altura até pensei "se tiver algum problema ou se perde a bebé não vou aguentar estarmos as duas a viver isto".
Cada vez acho mais que ao falarmos, a verbalização do que sentimos retira peso e ajuda a que os acontecimentos maus se enquadrem na nossa vida sem que seja "algo oculto" que não se pode saber ou falar. Mas há quem prefira viver em isolamento estas fases más.

Joana123 escreveu:Comigo também me ajudou conversar muito abertamente sobre estes pensamentos com as minhas amigas. Demorei mais tempo a engravidar desta vez do que das outras, tinha uma amiga a tentar ao mesmo tempo que eu, entretanto ela engravidou e eu não e falámos imenso sobre isso, sobre este pensamento intrusivo de 'porquê aos outros e não a mim?', que mina a felicidade que sentimos que devíamos ter por eles. Não há nada de mal em sentirmo-nos assim, nem somos más pessoas, simplesmente é um pensamento lógico e não conseguimos controlar a forma como nos sentimos. A minha amiga acabou por ter uma perda gestacional e agora estamos ao contrário, eu grávida e ela ainda não, e mais uma vez falamos abertamente sobre isto, eu sei que ela não está feliz por mim nem eu esperaria que ela estivesse, é normal, são situações complexas que nos magoam e obviamente que não quer dizer que queiramos mal às pessoas. Vai acontecer. Lembro-me de no Natal passado pensar 'mais um Natal sem estar grávida' e afinal no próximo Natal já vou ter é um bebé. Um beijinho.


Comigo aconteceu algo semelhante mas ao contrário, porque como ela perdeu eu tive medo de perder também quando chegasse a minha vez - até porque temos imensas coisas semelhantes as duas, acontecimentos de vida marcantes digamos assim, e achei que seria mais um. Não foi, felizmente. Mas lembro-me de falarmos juntas mal daquele paleio do 'é quando menos se espera', e depois comigo foi efectivamente num ciclo que dei como perdido, nem sei bem como é que engravidei, depois de meses a fazer tudo certinho, e disse-lhe isso 'tantos meses a criticar, e afinal foi mesmo quando menos esperei'. Sei lá, acho tranquilizador verbalizar estas coisas, mas somos todos diferentes claro.

MisaL -
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Desde 17 Abr 2019

Não é má pessoa, está a sofrer e não está com paciência, nem vontade para gente feliz. O que mais queria é não ter de lidar...não era saber lidar. Não sei o que sabem ou não sabem, mas pode mesmo dizer "estou feliz que vás ter o teu bebé e ele será muito benvindo, mas dá-me um tempo, porque também estou muito triste por não ter o meu". Acredito que seja suficiente para não a massacrarem.
Fez bem marcar apoio, acho super importante e vai fazê-la sentir-se melhor. Eu pedi apoio psicológico para a minha IMG, depois abdiquei dele, mas já tinha muitas ferramentas, já fiz terapia, estou habituada a situações semelhantes. Nem consigo imaginar quem passa por tudo sozinha.
É importante que adquira algumas ferramentas, porque a vida segue. A sua vai ter de voltar a reerguer-se, a das outras pessoas vai seguir e esse bebé está aí, não dá para fazer de conta. É tudo muito cedo, se percebi bem, não tem de lidar já com isto, nem de sentir-se na obrigação de andar a dar pulos de alegria. Proteja-se uns momentos e logo enfrentará a vida com outros olhos. Assuma com as pessoas que está triste, que não está com vontade de lidar com nada, que precisa de uns momentos tranquilos.

Catarina123 escreveu:

MisaL escreveu:Custa mesmo muito!
Não se sinta mal por estar triste, tem esse direito é o seu sofrimento e tem de levar o seu tempo. Não passe por isso sozinha, procure ajuda, fale com alguém.
A sensação de termos a vida parada dói muito. A minha filha mais velha foi operada à nascença. No dia da cirurgia fui dar uma volta pelas redondezas do hospital. É uma zona central, de estudantes, imenso movimento e eu lembro-me de olhar para as pessoas e pensar: mas que vida é esta? Cada um vai na sua vida, uns correm para apanhar o autocarro e eu sou-lhes invisível. Eu não sei o dia de amanhã, eu estou à espera do telefonema que pode mudar a minha vida para sempre e ninguém repara em mim. É a sensação de todos estarem em movimento e nós com a vida suspensa, nem sabemos bem para que lado virar.
A verdade é que a vida volta sempre a andar e hoje estamos com a vida suspensa e amanhã chega uma luz e a nossa anda de novo. E eu saí do hospital com a minha bebé e outras mães não.
Quanto engravidei do meu 3o uma amiga minha engravida na mesma altura. Eu tinha mais uma semana do que ela, eu grávida num descuido, ela com uma luta de infertilidade. Eu perdi a minha bebé numa IMG e ela teve a dela, no dia da minha DPP. A vida dela esteve mais de um ano suspensa e depois andou a dela e parou ali a minha, mas depois volta sempre a andar e a aparecer a luz.
Custa muito ver que não somos nós que estamos felizes, que não foi para nós a boa notícia, mas um dia a vida vai voltar a andar!
Procure ajuda, vá ao médico agora que já fez os 6 meses. Não tenha vergonha de estar triste, de chorar, de se afastar de algumas pessoas que não lhe façam bem no momento, nem tenha vergonha daquilo que lhe aconteceu e está a acontecer e acredite amanhã há-de ter a sua luz.
Força. Não se isole, fale com pessoas, apanhe sol. Que a vida lhe traga boas notícias um dia destes 🍀

Obrigada pelas palavras. Já marquei a consulta, será para o final de junho.
Eu realmente tenho sentido que sou má pessoa, e detesto quando me dizem que não sei lidar com a situação... mas existe alguma forma ideal padronizada de lidar? Gostava mesmo muito de ver as coisas de outra perspetiva, por isso agendei também uma consulta de psicoterapia... sinto-me de rastos. Acho que muito poucas pessoas fazem o esforço e têm a empatia para se colocar do nosso lado nestas alturas.

MisaL -
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Desde 17 Abr 2019

Acredito que também tenha acontecido o mesmo. Acho que a minha perda "assombrou" mais a gravidez dela, do que a felicidade dela ter assombrado a minha perda. De repente a ela também lhe caiu a ficha de que "não acontece só aos outros" e estava sempre ali um "podia ter sido eu, pode acontecer-me alguma coisa também". Tanto que ela não tinha feito o DNA e no próprio que soube marcou consulta para falar com a médica sobre a hipótese de ainda ir fazer mesmo com baixo risco no bioquímico.
Não vi a menina logo (por circunstâncias) e quando a fui visitar já estava grávida, têm agora perto de 8 meses de diferença. Hoje a dela é como se tivesse um bocadinho da minha, tenho sempre um amorzinho especial ❤️

Joana123 escreveu:

MisaL escreveu:Eu acho que até pode estar feliz, agora estar feliz pelos outros não é suficiente para anular a tristeza que sente.
Também falei sempre. Claro que houve uma fase em que não se queria falar, nem ver ninguém. Lembro-me que não lhe contei até ela ter os dados do rastreio e saber que estava bem e fiquei genuinamente feliz por a dela estar bem. Só soube depois da IMG. Claro, que simultaneamente me trouxe a tristeza da minha, mas era mesmo a notícia que queria ouvir, já só rezava pela dela. Na altura até pensei "se tiver algum problema ou se perde a bebé não vou aguentar estarmos as duas a viver isto".
Cada vez acho mais que ao falarmos, a verbalização do que sentimos retira peso e ajuda a que os acontecimentos maus se enquadrem na nossa vida sem que seja "algo oculto" que não se pode saber ou falar. Mas há quem prefira viver em isolamento estas fases más.

Joana123 escreveu:Comigo também me ajudou conversar muito abertamente sobre estes pensamentos com as minhas amigas. Demorei mais tempo a engravidar desta vez do que das outras, tinha uma amiga a tentar ao mesmo tempo que eu, entretanto ela engravidou e eu não e falámos imenso sobre isso, sobre este pensamento intrusivo de 'porquê aos outros e não a mim?', que mina a felicidade que sentimos que devíamos ter por eles. Não há nada de mal em sentirmo-nos assim, nem somos más pessoas, simplesmente é um pensamento lógico e não conseguimos controlar a forma como nos sentimos. A minha amiga acabou por ter uma perda gestacional e agora estamos ao contrário, eu grávida e ela ainda não, e mais uma vez falamos abertamente sobre isto, eu sei que ela não está feliz por mim nem eu esperaria que ela estivesse, é normal, são situações complexas que nos magoam e obviamente que não quer dizer que queiramos mal às pessoas. Vai acontecer. Lembro-me de no Natal passado pensar 'mais um Natal sem estar grávida' e afinal no próximo Natal já vou ter é um bebé. Um beijinho.

Comigo aconteceu algo semelhante mas ao contrário, porque como ela perdeu eu tive medo de perder também quando chegasse a minha vez - até porque temos imensas coisas semelhantes as duas, acontecimentos de vida marcantes digamos assim, e achei que seria mais um. Não foi, felizmente. Mas lembro-me de falarmos juntas mal daquele paleio do 'é quando menos se espera', e depois comigo foi efectivamente num ciclo que dei como perdido, nem sei bem como é que engravidei, depois de meses a fazer tudo certinho, e disse-lhe isso 'tantos meses a criticar, e afinal foi mesmo quando menos esperei'. Sei lá, acho tranquilizador verbalizar estas coisas, mas somos todos diferentes claro.

Mani5 -
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Desde 22 Maio 2024

Olá,
Lamento muito a sua perda. É um sentimento que só quem passa por ele sabe.
Revi-me bastante porque a nossa história é muito semelhante. Também começamos a tentar no final de 2022 depois de fazer análises e da médica dizer que podíamos avançar. Demorou muitos meses até termos o tão esperado positivo. Tive muitos, muitos sintomas no início da gravidez, o que diziam que era bom sinal, e quando fizemos a primeira ecografia às 7 semanas a médica mostrou o coraçãozinho a bater. Por volta das 10 semanas saiu um bocadinho de sangue no papel e acabamos por ir às urgências onde nos disseram que o coração tinha parado de bater. Foi tão difícil ouvir aquelas palavras que eu fiquei mesmo em negação sem querer acreditar que era possível.
Depois disso foi um processo doloroso... Não fisicamente. Tomei muita medicação por várias vias (oral, vaginal, intravenosa), primeiro em casa e depois já no hospital, e nada beliscou o meu pequeno. Parecia que não se queria separar de mim. Tive que sofrer mesmo intervenção. Depois disso tivemos que aguardar uns meses. Entretanto voltamos aos treinos e nada.
Parece que todos à nossa volta anunciam gravidez (alguns do segundo filho) e nós ficamos contentes por eles, mas ao mesmo tempo é de uma tristeza enorme. Isso não nos faz piores pessoas. Um dia seremos nós. Acho que é mesmo preciso relaxar e pensar que o melhor para nós ainda está por vir.
Muita força! Estamos juntas nisto. Piscar o olho
Beijinhos

Catarina123 -
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Desde 29 Maio 2024

Porque a tristeza serve para servir de equilíbrio à felicidade... queria só dizer que estou grávida de 13 semanas de um rapazinho 💙 está tudo a correr bem e esperemos que continue

Catarina

MisaL -
Offline
Desde 17 Abr 2019

Catarina123 escreveu:
Porque a tristeza serve para servir de equilíbrio à felicidade... queria só dizer que estou grávida de 13 semanas de um rapazinho 💙 está tudo a correr bem e esperemos que continue

Que bom!
Muitas felicidades para esse pequenino ❤️
Permita-se viver em pleno essa gravidez e estar à vida por lhe ter colocado várias dificuldades, mas também a ter compensado com o seu filhote.

Joana123 -
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Desde 31 Maio 2016

Muitos parabéns! A vida resolve-se. A minha amiga que referi nos meus comentários também engravidou entretanto e o meu já cá está. Muitas felicidades!

Leandra Andreia... -
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Desde 20 Ago 2024

Olá,
Lamento muito a sua perda. É um sentimento que só quem passa por ele sabe. eu e o meu marido no em abril do ano passado decidimos ter outro filho, marquei consulta par retirar o implante. e foram se passando os meses e nada de engravidar cheguei ao ponto de dizer se ate ao final do ano não estiver gravida vamos desistir.. em janeiro 6 dias antes dos meus anos descobri que estava gravida. Por volta das 9 semanas saiu um bocadinho de sangue e acabamos por ir às urgências onde nos disseram que para já não conseguiam ver de onde vinha o sangue e que estava tudo a evoluir fui levar a injeção por ter sangue negativo. liguei a minha medica pois só tinha consulta com ela um mês depois e ela antecipou me a consulta para o dia 24 de fevereiro e quando la chego tive a pior noticia. Foi tão difícil ouvir aquelas palavras que eu fiquei mesmo em negação sem querer acreditar que estava me a acontecer..
Depois disso foi um processo doloroso... Tomei muita medicação por via (oral, vaginal). entretanto logo na semana a seguir a ter perdido o meu bebe soube que a minha prima estava gravida foi muito duro custou me imenso ouvir...agora voltei aos treinos so espero conseguir voltar a engravidar.

beijinhos