
Filipa Fernandes, Médica Ginecologista
Esta deve ser a pergunta que mais frequentemente nos fazem as nossas pacientes e os seus familiares durante as últimas semanas da gravidez.
Todo o período de gravidez é uma incerteza e uma novidade – até mesmo para as “mamãs de segunda viagem”, já que nenhuma gravidez é igual e o nosso corpo se vai modificando com a idade e as gravidezes.
Antes de mais nada, convém recapitular o que significa a “data provável de parto”. Muitas mamãs acham que é o dia em que nós, médicos, prevemos que vai ser o dia do parto, mas, realmente, só nos serve para datar a gravidez em semanas.
A data provável de parto é o dia em que o bebé fará 40 semanas certinhas na barriga da mamã. Se quiséssemos definir uma data provável e ideal de parto, teríamos de dar um período entre as 37 e as 42 semanas de gravidez, coincidente com o período em que passa de ser um parto pré-termo a um a termo.
O período de trabalho de parto é aquele em que a mamã atinge os 3-4 cm de dilatação e tem contrações regulares e dolorosas a cada 3 minutos, aproximadamente, e é o momento em que, geralmente, se decide internar na Sala de Partos e oferecer analgesia epidural.
O período prévio ao trabalho de parto é diferente para todas as mulheres. Poucas são as mulheres que vão a uma consulta ou ao serviço de urgência sentindo só algumas contrações irregulares não dolorosas e que têm a surpresa de estar já no início de trabalho de parto e ficam logo internadas. /p>
A maioria das mulheres sente, nos dias que antecedem o dia do parto, os seguintes sinais que correspondem aos pródromos de trabalho de parto e que tendem a coincidir com a fase inicial, ou latente, do trabalho de parto:
• Contrações irregulares, que geralmente são indolores, ou sensação de ligeiro desconforto, frequentemente associado à sensação de ”barriga dura" de forma intermitente. Estas contrações ainda não são as verdadeiras contrações de trabalho de parto, mas sim as contrações de Braxton-Hicks. A sua função é preparar o útero para o trabalho de parto e podem aparecer e desaparecer várias vezes durante as últimas semanas da gravidez. Normalmente, associam-se a algum fator desencadeante, que pode ser diferente em cada mulher - como realizar algum esforço ou caminhar - e costumam desaparecer de forma espontânea, após algum descanso, com recurso a medidas de alívio ou a medidas relaxantes, como um banho de água quente.
• Perda do rolhão mucoso, uma secreção gelatinosa transparente que muitas mulheres perdem nas últimas semanas de gravidez, tecnicamente denominado Rolhão de Schröder. A sua função durante a gravidez é servir de barreira ao feto, isolando o ambiente intrauterino do extrauterino. Por vezes, essa secreção é acastanhada por se acompanhar de mínimas perdas de sangue, consequência das modificações do colo uterino que levam, também, à perda desta secreção.
• A sensação de alívio dos sintomas gástricos e da compressão ao nível do diafragma, juntamente com a sensação de “a barriga ter descido". De forma consequente, pode estar associado a desconforto na zona pélvica, sinais derivados da insinuação da cabeça fetal na bacia da mãe para o seu futuro posicionamento para o trabalho de parto.
Infelizmente, nenhum destes sintomas nos indica um tempo específico de quanto faltará para o trabalho de parto, mas significam que o nosso corpo se está a preparar para o tão esperado dia de trabalho de parto e devem recordar-nos de que começa a estar na hora de preparar calmamente as malas para a possibilidade de, em qualquer momento, as contrações se intensificarem em dor e regularidade ou produzir-se a rutura das membranas. É necessário que a mamã esteja preparada para ir para a maternidade, mesmo que isso aconteça mais cedo do que o que esperava.
É raro, mas algumas mulheres podem estar alguns dias com contrações irregulares e com perdas intermitentes de rolhão mucoso. Quando chega o momento em que se indica a indução do trabalho de parto (por se terem alcançado as semanas em que se consensualizou que existe mais benefício para o bebé estar fora da barriga da mamã do que dentro), é necessário, nestes casos, administrar medicação para alcançar as anteriormente descritas condições do colo e as contrações que definem um trabalho de parto.
É importante relembrar que - e muitas vezes nos esquecemos disto - apesar desta situação, os pródromos não foram em vão, pois muitas vezes levam a iniciar-se a indução desde um ponto de partida muito mais avançado e favorável, podendo diminuir o tempo e a quantidade de medicação necessários para alcançar o objetivo.
Mais importante ainda do que reconhecer os sintomas de início de trabalho de parto, é recordar os principais sinais de alerta pelos quais se tem de ir ao serviço de urgência nas últimas semanas de gravidez para se ser avaliada por um especialista.
• Perda hemática vaginal.
• Suspeita de rotura de membranas por perda de líquido por via vaginal.
• Contrações uterinas regulares e dolorosas.
• Sensação de diminuição ou ausência de movimentos fetais.
Artigo originalmente publicado na terceira edição daRevista De Mãe para Mãe, em abril de 2020.