
Sylvia de Sousa Guarda, Psicóloga Infantil, Formadora e Consultora Montessori.
A pedagogia Montessori é muito mais do que um simples método de educação; é um novo olhar sobre a criança, uma filosofia de vida que nos permite acompanhar o desenvolvimento natural da criança e contribuir para que se torne um adulto feliz e harmonioso.
Este é um método que desenvolve, na criança, competências essenciais para que cresça feliz: a autonomia, a autorregulação, a liberdade de escolha, a possibilidade de se movimentar livremente dentro do ambiente de aprendizagem, de descobrir e compreender a Natureza, de aprender com as outras crianças, de respeitar e ser respeitada. Na pedagogia Montessori, as crianças aprendem consoante o seu próprio ritmo, observando, manipulando objetos e prestando atenção às pequenas coisas do quotidiano.
Os benefícios da educação Montessori são imensos e, embora tenha sido desenvolvida por Maria Montessori há mais de 100 anos, esses benefícios estão, hoje, amplamente confirmados por diversos estudos em neurociências. Maria Montessori dedicou anos da sua vida à observação de crianças em diversos contextos antes de tirar conclusões e percebeu que o período da infância, até aos 6 anos, é crucial para o desenvolvimento.
O método Montessori apresenta-se como uma forma de acompanhar a criança no seu dia-a-dia, e é por isso que faz sentido implementar os seus princípios não apenas nos contextos formais de aprendizagem, como a creche ou o jardim-de-infância, mas também em casa.
É importante que os adultos sejam capazes de se abstraírem das suas próprias vivências e da forma como foram educados. Afastar ideias pré-concebidas sobre o que as crianças são capazes, ou não, capazes de fazer é essencial, pois só assim poderão concentrar-se na criança. É imperativo que se olhe para ela como um ser que se constrói através das suas próprias experiências – os adultos devem aprender a assumir uma posição de recuo para deixar a criança fazer as coisas por si mesma, ao seu ritmo.
Respeitar esse ritmo implica identificar a fase do desenvolvimento em que a criança se encontra, assim como os seus períodos sensíveis. Só desta forma será possível propor-lhe os materiais e as atividades pedagógicas que vão ao encontro da sua curiosidade, dos seus interesses e das suas necessidades de desenvolvimento.
O papel do adulto é um dos pilares da pedagogia Montessori, mas o ambiente preparado é, também, um elemento essencial para o desenvolvimento da criança. Os diferentes espaços onde a criança vive, seja em casa ou na escola, devem ser pensados e organizados em função da idade das crianças que acolhem.
É importante não esquecer que, quando Maria Montessori criou a primeira “Casa dei Bambini” (a escola Montessori para crianças dos 3 aos 6 anos), em Itália, no início do século XX, pediu aos arquitetos que fabricassem móveis com dimensões adequadas ao tamanho e à força das crianças (coisa que ainda não existia naquela época). Os arquitetos fabricaram, então, mesas e cadeiras que permitiam que as crianças pudessem ter uma boa postura e os pés bem assentes no chão enquanto trabalhavam. Essa posição favorece significativamente a concentração, e Maria Montessori valorizava todos esses detalhes.
O ambiente preparado deve, também, permitir que a criança tenha, ao seu alcance, tudo aquilo que necessita para desenvolver a sua autonomia: utensílios de cozinha para ajudar a preparar as refeições, objetos de higiene para lavar as mãos, a cara e os dentes, assim como todos os materiais para realizar as suas atividades. As roupas e os sapatos devem estar colocados à sua altura (para que ela possa vestir-se e calçar-se sozinha) e a cama deve estar ao nível do chão (para criar autonomia e serenidade no sono). A ideia é que o ambiente permita que a criança se movimente livremente e que possa escolher os materiais pedagógicos que lhe vão permitir adquirir conhecimento. Parece complicado, mas não é!
Na verdade, em Montessori adotamos o princípio “menos é mais” e colocamos de lado as coisas supérfluas. O ambiente Montessori é, dentro do possível, desprovido de estímulos distratores: retiramos tudo aquilo que é inútil ou que interfere com a concentração da criança, seja num momento de atividade ou no momento de adormecer.
No quarto, reduzimos a quantidade de quadros nas paredes e os poucos que colocamos estão ao nível dos olhos da criança. Nas estantes, colocamos apenas os objetos adequados à sua idade e aos seus interesses. Optamos por cores claras e por uma decoração sóbria.
Resumidamente, o ambiente Montessori traz serenidade e tranquilidade à criança e ajuda-a a organizar-se e a concentrar-se. Privilegiamos objetos bonitos, feitos com materiais naturais (como a madeira, o tecido, o vime e o vidro), demonstramos a forma correta de manipular esses objetos e depois… deixamos a criança explorar livremente!
Um dos grandes princípios da pedagogia Montessori é que uma criança autónoma é uma criança feliz, porque desenvolve a sua autonomia graças à confiança que lhe transmitimos, e isso é o melhor presente que lhe podemos oferecer!
Artigo originalmente publicado na segunda edição da Revista De Mãe para Mãe, em janeiro de 2020.